
"Fumando os amores, e me embriagando com as Paixões! "
Clarice Lispector
Agora... os beijos se confundem com os abraços, os abraços com os sorrisos, os sorrisos com os olhares, os sentimentos com os amores, os amores... Com outros tantos amores!
Agora, ouvindo essa musica na vitrola velha repleta de poeira, desejo sentir a fundo a canção, então estendo a minha mão e toco de leve a poeira sobre a vitrola passo desse modo a sentir a musica entrando em mim fazendo uma confusão sobre meus sentimentos reprimidos e decididos, não retribuídos pela indecisão de outros amores seus, que se confundem com tantos outros amores... Meus.
Agora! Mistura o leite com o café quente, pega o violão, compõe, vê o dia amanhecer, procura dividir-se em alguém, põem os óculos; agora vai, sai! Vai a decisão foi tomada, muda de tom e envaidece o viver...
O som continua a sair livre da vitrola enquanto eu dou de ombros as costas... Saem meus amores!
Ao contrário do que o título desta crônica possa sugerir, não vou falar sobre aqueles que vivem à margem da sociedade, sem trabalho, sem estudo e sem comida. Quero fazer uma homenagem aos excluídos emocionais, os que vivem sem alguém para dar as mãos no cinema, os que vivem sem alguém para telefonar no final do dia, os que vivem sem alguém com quem enroscar os pés embaixo do cobertor. São igualmente famintos, carentes de um toque no cabelo, de um olhar admirado, de um beijo longo, sem pressa pra acabar.
A maioria deles são solteiros, os sem-namorado. Os que não têm com quem dividir a conta, não têm com quem dividir os problemas, com quem viajar no final de semana. É impossíver ser feliz sozinho? Não, é muito possível, se isso é um desejo genuíno, uma vontade real, uma escolha. Mas se é uma fatalidade ao avesso – o amor esqueceu de acontecer – aí não tem jeito: faz falta um ombro, faz falta um corpo.
E há aqueles que têm amante, marido, esposa, rolo, caso, ficante, namorado, e ainda assim é um excluído. Porque já ultrapassou a fronteira da excitação inicial, entrou pra zona de rebaixamento, onde todos os dias são iguais, todos os abraços, banais, todas as cenas, previsíveis. Não são infelizes e nem se sentem abandonados. Eles possuem um relacionamento constante, alguém para acompanhá-los nas reuniões familiares, alguém para apresentar para o patrão nas festas da empresa. Eles não estão sós, tecnicamente falando. Mas a expulsão do mundo dos apaixonados se deu há muito. Perderam a carteirinha de sócios. Não são mais bem-vindos ao clube. Como é que se sabe que é um excluído? Vejamos: você passa por um casal que está se beijando na rua – não um beijinho qualquer, mas um beijo indecente como tem que ser, que torna tudo em volta irrelevante – você inclusive. Se lhe bate uma saudade de um tempo que parece ter sido vivido antes de Cristo, se você sente uma fisgada na virilha e tem a impressão que um beijo assim é algo que jamais se repetirá em sua vida, se de certa forma este beijo que você assistiu lhe parece um ato de violência – porque lhe dói – então você está fora de combate, é um excluído. A boa notícia: você não é um sem trabalho, sem estudo e sem comida – é apenas um sem-paixão. Sua exclusão pode ser temporária, não precisa ser fatal. Menos ponderação, menos acomodação, e olha só você atualizando sua carteirinha. O clube segue de portas abertas.
(Martha Medeiros)
Eu e você frente a frente… É o medo e o desejo; É desconfiança e a esperança; É o grito e o silencio; É o gelo derretendo a mão no fogo… Eu e você frente a frente.
É ter sempre q me confrontar; Encarar meus erros e as minhas razões… As minhas verdades e as minhas ilusões; Meu poder e a minha impotência; A minha liberdade e os meus limites… Quando estou na sua frente, eu sinto toda a minha dor, mas só na sua frente eu posso sentir todo o meu amor!
(Luiz Antônio Gasparetto)
- Qual foi o erro que cometi? Perguntei a ela sem entender direito o porquê do questionamento, mas eu tinha medo do silencio, pois sabia bem que após ele viria a ausência de Clarice.
- você não cometeu erro algum, mais eu também não entendo porque cheguei a esse ponto, de fazer isso, mesmo assim peço para que não me abandone, eu te amo!
- Clarice como você pode me amar? Você sabe muito bem que estou sofrendo, você fingiu não saber que eu renegaria meus sentimentos em relação a você.
- por favor, me perdoe, disse ela com necessidade.
Ela acha isso simples, não tenho tanta certeza se as horas que vivo agora são as próprias do ano passado antes de conhece - lá. Durante um resumido tempo eu me interessei por ela, mas logo eu que jurava a mim próprio jamais mais amar ninguém, aprendi a nunca, em teoria alguma deixar sair da minha boca expressões em vão,aprendi que jurar em vão era pecado; mas o que nessa existência não é !
Após essas palavras de Clarice senti como se o que eu ouvia estivesse dilacerando o meu orgulho, eu sabia que a amava, sabia que poderia dar a vida por ela; do mesmo modo não sabia que teria que ser intenso e ter audácia como jamais tive antes para resignar ou pronunciar essa afeição diante a minha vivência.
- desculpe-me, estou indo embora.
- aonde você vai? – perguntou Clarice com um olhar de ansiedade que se refletia sob as lagrimas que há tempos já desceram pelo meu aspecto.
- Não sei, mas sei que aqui não fico mais; preciso desaparecer, escapar. To com temor do que possa acontecer comigo agora, articulei isso de um jeito calado como mistério.
- Posso apanhar tua mão, deixe-me partir com você asseguro que ficarei recatada, nem uma palavra sequer saira da minha boca.
Pra falar a verdade não sabia, eram duvidas demais, não entendia o que se passava dentro de mim. É complexo se abranger quando se esta nessa condição sabemos, que apreciamos, mas também sabemos que somos traídos, quando isso acontece ofende mais ainda gostar, porque já se sabe que se gosta de forma incrível, carregamos com agente essa certeza e ela perpetua sobre o que somos,passamos então a não ser mais o que erramos a um instante atrás. Eu sabia que Clarice também me adorava de uma forma a da qual eu não entendia, também sabia que teria que adequar a ela um aconchego sobre o meu abraço diante dos sonhos devastados e do cansaço dela após as barreiras demolidas.
- Sim Clarice, permaneça comigo, mas se eu te mandar embora não volte nunca mais.
- Tudo bem prometo que só vou ficar com você ate quando tolerar.
Saímos a trafegar pela areia. Eu observava as coisas ao meu redor com uma exatidão viva, segundo Clarice; mas não estava ali, eu não ouviu o que se passava ao meu redor, não sentia as ondas do mar encharcar meus pés, só caminhava como se nem isso fizesse, era como flutuar. O silencio de Clarice me era vasto, era tardio desejar parar de sentir o que me conduzia, eu tentava descobrir respostas para o que se passava comigo, queria chorar eu acho, mas sabia que iria me sentir confortada demais, e então o que eu desejava era aproveitar aquela amargura que segurava a estrutura quase que destruída do apego que tinha pro Clarice !? Enquanto eu pensava parei um instante para olhar Clarice, avistei-a melancólica e desconsolada de um modo como eu nunca pensei em ver um dia.
Então eu parei de caminhar, e compreendi que se desse um fim ali a toda aquela coisa seria muito presumível que durante uma vida inteira arrependeria-se, pois a dias em que gostaríamos de não viver, mais existir ou não as vezes pode não ser uma alternativa. Aprendemos que precisamos unir o tédio e o caos a alegria e a tranqüilidade; eu lembrei que Clarice me mostrou o inferno, ela queria saber se eu sobreviria ali, mantendo meus bons hábitos e meu jeito inexplicável, incomparável e indescritível de ama - lá, era uma necessidade dela saber como eu ficaria se por acaso fosse mandada pra lá, saberia que eu iria junto. O olhar de Clarice me desvendou que tudo não passava de um teste, que para que ela me amasse eu teria que passar de ano sem notas vermelhas, sem me amarrotar tanto ao ponto de não poder mais protegê-la; Clarice queria que eu fosse para ela como um fortaleza, ela podia me mostrar o céu.!
“consegui”, pensei eu. Resisti, sabia que agora Clarice me ganharia para sempre, sabia que se ficasse com ela ate a nossa musica acabar aquele dia seria pra vida inteira, pelo menos ate onde acho que vai uma vida inteira.
Olhei bem para Clarice, de um modo ficço como nunca consegui notar ninguém, senti a mão dela sobre a minha de um jeito tão intenso que ate agora me aquece os pensamentos, e pronunciei:
- Eu te perdôo, mas só se você jurar pra mim que vou fazer parte de todos os seus dias de agora em diante, jura, mesmo que seja um pecado. Eu sofro por você gostando mais de você do que de mim.
Clarice sem se conter de contentamento, proclamou que sim, e sorriu para mim. Voltamos a andar juntos e confiantes, então percebi que era assim que era pra ser, então assim seria de agora em diante.
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